sexta-feira, 1 de janeiro de 2016

A lágrima do palhaço (poesia) - parte I





(I)


Era eu um menino triste, coitado.
Quase um infante-arrombado, abatido por uma doença aí.
Meu sorriso esbanjava uma melancolia que irradiava de amargura toda a praça.



Um dia meu pai fala: leve esse porra pro circo. Quem sabe lá ele não desanuvia.
Boa idéia, Pai, disse minha irmã: lá tem bicho, trapézio e palhaço.
Palhaços! Pensei eu: isso deve ser chato demais.
Mas...



Fomos para o tal do circo. Não achei graça nos bichos e muito menos nos palhaços.
Uma pessoa que ganha a vida para fazer os outros rirem... Sei não, visse?
Desconfio deveras.
O palhaço tem uma maquiagem pesada, pó de arroz, ruge, carmim...
Para que enfeitar tanto a cara se ele mesmo arqueia a sobrancelha pintada para baixo.
Como se em um desejo auto-afirmativo de “sou triste”.



Triste sina a do palhaço: sem dinheiro, sem mulher, sem carinho, parecendo o José do Drummond.  E tem que fazer os outros acharem graça do seu semblante melancólico.
De sua peruca rota. Dos seus sapatos grandões. De suas vestes em farrapos.



Coitado...

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