quinta-feira, 30 de junho de 2011

Escapulário demoníaco (poesia)


O Capiroto também usa escapulário
Faixinha de pano preto
Escritos para otários.


Falando só absurdos
Quiça coisas boas para os mudos
Ou bad things para os surdos
- qual seria a melhor rima para “os mudos”?


O Cão quem acredita no Satanás
Trás Cás, Belzebu, Pé-de-Bode
Imagem de quem leva e não faz
E Deus que também não pode
Esse nem sai de cima, nem fode.


Pois entre outro e um
Prefiro o Chifrudo ao Barbão
Enquanto um diz pra não se melar
O outro diz “O inferno é Open Bar”.

terça-feira, 21 de junho de 2011

Eu, ela e ele/a (conto)


Éramos puro impulso. Eu e N pensávamos e fazíamos sexo em qualquer ocasião e por qualquer motivo. Acho que era pelo fato de sermos amantes fugazes, fortuitos. Verdadeiros stalkers. “É hoje, N?”, “É”, N respondia. E fodíamos desbragadamente como se saciando uma fome pelo corpo um do outro. E tinha que ser tudo saciado naquele instante, pois não éramos namorados, nem noivos, tampouco casados. Eu fodia com N. N fodia comigo. Assim mesmo. Simples.
Nos concedíamos quase todo tipo de sexo “pervertido”. A lista de fetiches era gigante: dominação, sado-masoquismo, fist fucking, sexo oral, anal, menáges à trois, voyeurismo, exibicionismo. Em se tratando de foda já havíamos feito de tudo. Ou melhor: quase tudo. Voltávamos de um bar e N foi me deixar em casa. Estávamos meio bêbados, mas ainda lúcidos. De repente paramos o carro ao lado de umas prostitutas. Algumas belíssimas outras nem tanto. N e eu em sintonia perfeita, nem precisamos falar nada para nos entendermos: ela parou o carro, eu baixei o vidro e chamei uma prostituta loira, muito bonita, vistosa, para conversar com ela. Perguntei quanto era o programa e ela disse que se fosse com nós dois seriam R$100,00. Depois disso ela se revelou. Ela disse algo mais ou menos assim: “mas eu sou menino. tenho pau”. Dispensei gentilmente o travesti, levantei o vidro esperando que N fosse embora dali. Para minha surpresa ela me instigou a sairmos com o travesti para um motel. Eu, ela e ele(a). Se vocês acham que eu titubeei, caros leitores, estão todos enganados. Com a conscentimento de N, baixei o vidro, chamei o travesti de volta, combinamos preço e a duração do programa e partimos os três para uma aventura de picardia sexual que para nós dois, N e eu, foi muito marcante.
Aviso: é preciso despir-se de qualquer preconceito para continuar essa leitura. Não recomendo que sigam adiante os homofóbicos, os que não gostam da ideia do amor livre, os muito religiosos e àqueles travestidos de qualquer ranço machista/feminista/moralista.
Durante o trajeto fui conversando com Lídia (o nome de batismo não condiz com a realidade dos seios bólidos, da pele bem cuidada e do rosto de traços feminos. portanto, não irei citar o nome real dela(e)). Fui pergutando banalidades para quebrar a capinha de gelo que a nova experiência tinha criado sobre N e eu. Lídia disse sem ruborizar que já “tinha comido muito cu de coroa macho”, que já “tinha feito muito homem de mulherzinha com o cu aberto para cima” e que saiu poucas vezes com casal de menino e menina. Lídia disse que a maioria dos seus clientes são homens, senhores com alguma idade e família já estabelecida que adoram o visual de uma mulher fodendo-lhes o cu, rasgando seus rabos com um pau gigantesco mas sem barba e pelos e com a vantagem clara de ter seios comprimindo-lhes as costas na hora do coito de quatro. Quebrada a capinha de gelo, Lídia perguntou qual era nossa liga. Falei que não éramos um casal, que éramos amigos coloridos que apreciavam boa foda e que estávamos querendo experimentar um à trois com um travesti. Lídia ainda perguntou se valeria tudo na hora H. N prontamente disse que haveriam regras e muitas camisinhas.
Chegamos ao motel e entramos no quarto. N ditou em um tom generalesco três regrinhas: nem eu, nem ele vamos chupar seu pau; só se enfia um pau num cu ou numa buceta com camisinha; você, Lídia, não chupa minha buceta nem beija na boca de ninguém. Eu e Lídia nos entreolhamos e fizemos sinais de que entendemos o recado. O quarto tinha dois banheiros e fomos tomar banho eu e N e Lídia, sozinha. Saí sem roupa, pois sabia que dali a pouco ou eu teria meus pudores enterrados e jogado pra puta que o pariu ou vestiria minhas roupas e esperaria um homem de verdade vir até ali e dar cabo da situação. N era uma poesia de rimas fortes e suaves ao mesmo tempo: pele alva, gostossísima, seios que todos queríamos tê-los nas nossas bocas ou segurando-os forte enquanto N cavalga nossos paus como uma amazona. Lídia era assim: uma mulher sem tirar nem por: cabelos loiros e lisos, seios siliconados, rijos e com temperância, bunda escultural, mas com um pau muito maior que o meu e provavelmente maior e mais grosso que o do leitor que está achando esse conto uma viadagem sem limites no lugar de uma buceta. Quando vi o pau de Lídia, pensei que se N mandasse ele(a) me comer o cu eu estaria literalmente fodido. Começamos os três na cama, eu e N nos beijando e Lídia se masturbando, deixando seu pau duro para a eventualidade iminente. Nesses instantes ninguém precisa falar muito para que todos se entendam. N trepou sua buceta na minha boca e Lídia, num arroubo, começou a me chupar o pau. Eu tentei compreender a delícia de ter prazer fazendo sexo oral em N e recebendo boquete ao mesmo tempo. Indescritível. Trocamos de posição. Preliminares ainda. Deitei N de costas na cama, sentei-me sobre seu peito e empurrei meu pau na sua boca, sufocando-a ao mesmo tempo que Lídia fazia uma festa oral comprimido a língua contra a pudenda feminina parte que o travesti desejava ter. Paus tesos demais, bucetas úmidas de tanto exsudor, géis lubrificantes à vontade para besuntarmos os cus que estavam para serem comidos e fomos ao encontro das nossas mais recônditas vontades. N estabeleceu-se como uma espécie de chefe que comandaria todo a putaria.
Num impulso N disse: “meu bem” (apontando o dedo em riste na minha cara) “fique de quatro e abra bem seu cu, pois vamos meter”. Obedeci e senti o o friozinho do lubrificante em abundância inundando-me. Primeiro um dedo. Não sabia de quem, mas isso não importava. O dedo ia freneticamente comendo-me, abrindo espaço para coisa mais calibrosa. De repente a sensação de uma boca envolvendo meu pênis. Pela pegada percebi que era N que estava se fartando com sua boca em mim. Pensei por um segundo que se N estava a me chupar o pau e as bolas meu cu estava desguarnecido. De repente aquela estocada profunda me fez gemer alto de dor e pedi para Lídia ir com mais calma. O prazer anal às vezes exige sacrifícios difíceis de se explicar de modo racional. Trocamos todos de posição. N de quatro com a bunda totalmente empinada, louca para receber pela buceta e depois pelo cu. E ela teve o que seu corpo pediu. Fui até próximo de sua boca e ela babujava meu pênis de saliva com um apetite insaciável. E Lídia trabalhava muito bem, enterrando sua pica gigante na buceta de N. Mas eu costumo falar que pela buceta qualquer pau, com carinho, entra. Extasiei-me de prazer quando N chorava de dor ao sentir as poderosas estocadas que Lídia empregava na sua bunda. Um rendez-vous delicioso. Ficávamos pouco tempo em cada nova posição que N coreografava com um intuito muito elevado de seu modus pornografiorum. Gozamos os três quase ao mesmo tempo, sem camisinhas, um na boca do outro, em um carrossel sexual muito delicioso. Deitados na cama eu estava chupando a buceta de N alargada pelo pau de Lídia, Lídia estava me chupando e ela própria se masturbava. Depois daquele festival de porra, tomamos banho, comemos tudo o que havia no frigobar, pagamos Lídia, fomos deixá-la no kitnet onde ela morava e N me deixou em casa. Eram 4:00h da madrugada de um domingo qualquer. Antes de dormir rezei o Pai Nosso e a Ave Maria. Eu tinha exatamente duas horas para descansar antes de encarar a primeira missa do dia que eu iria rezar.

sexta-feira, 17 de junho de 2011

Será? (poesia)


Num errático sábado, oito da manhã, estava a tomar café numa padaria
Como é meu costume, observando os transeuntes, vi uma Deidade
Uma mulher muito bonita
Elegante, de óculos escuros e vestida de preto
- como se em luto simbólico por alguém que ainda não morreu -
Magérrima em partes do corpo que combinam com falta de carne
Mas com o excesso gostoso de gordurinhas onde, nós homens, adoramos pegar
E morder e apertar
Ela era uma espécie de diva da periferia


Pensei: “essa porra deve ser casada”
E de fato o era
O esposo era um primor de má educação
Uma doce mistura de gorila com chimpanzé
Ele se instalou à mesa e avolumava sua presença
Ora com esporros ou murros leves
Um gestual grotesco, desprovido de qualquer resquício de intelectualidade
E a Deidade, constrangidíssima, baixava a cabeça


Livre arbítrio existe para decidirmos
Com quem deveríamos nos relacionar ou continuar uma relação
O negócio anda mal? Separa-se, oras
Seu cônjuge é mal-educado, te espanca, te humilha?
Mande ele se foder
Mas vendo a Deidade sendo rebaixada pelo símeo
- e calada ou resignada -
Penso como foi cruel a epifania que diz “toda mulher gosta de apanhar”
Será que o Nelson Rodrigues estava com a razão?

segunda-feira, 13 de junho de 2011

O olho azul (poesia)


Linger on, your pale blue eyes” (Lou Reed)

Entrei em uma lanchonete com minha namorada.
Durante a fila do caixa notei que uma menina com grandes olhos azuis
chorava copiosamente.
Pensei: deve ter acontecido algo muito ruim.
E ela, numa olhada de soslaio, notou que eu a percebia.
Dei um tchauzinho e fiz uma careta boba qualquer.
Ela sorriu um riso bem tímido, mas que já trouxera algum alento para aquele mar de lágrimas que do olho dela escorria e borrava a maquiagem e a enfeiava.
Pensei em ir até ela e puxar alguma conversa fiada, contar uma piadinha, sei lá...
Mas eu estava acompanhado. E mulheres são, assim, meio misteriosas.
Melhor não, pensei. Depois isso vai acabar em confusão.
Saí da lanchonete de estômago cheio, de mãos dadas com ela e um pouco triste,
confesso, por ser frouxo demais.